Publicado: 10 de Setembro de 2013 em:

PRECONCEITO MUSCULAR II

Não quero representar desejos, não quero representar sentimentos. Só quero treinar. Não quero admiração, não quero ódio ou descriminação, mas sim respeito. Não quero conquistar sua mulher, não mereço despeito da população e não quero o que você quer. Não quero comer como todo mundo, não quero beber como todo mundo ou dormir tarde por estar em festas regadas à drogas. 

Quero descansar para estar pronto para a batalha contra mim mesmo no próximo dia.

Não quero te desafiar, provocar ou despertar qualquer tipo de reação ou sentimento. Quero passar despercebido, escondido pelos panos largos que não mostram minha silhueta. Mas no dia da competição quero ser o melhor, pois nisso se resume o esporte, na natação, corrida ou qualquer outro.

Quero me destacar pelos meus feitos e dedicação, receber elogios quanto à minha performance e conquistas pessoais, pois isso é esporte. Quero o lugar mais alto do pódio, o lugar mais iluminado do palco e ser simplesmente o melhor atleta, pois isso é esporte.

Se alguns chamam isso de narcisismo eu discordo, pois Narciso se afogou com seu próprio reflexo e adorava a si mesmo. Eu adoro o desafio, adoro as mudanças e não sou um ser estático que fica se admirando no reflexo de um rio parado. Sou mutável, não ligo que me chamem de “mutante”, pois realmente é isso que sou. Eu modifico meu corpo a cada dia, tenho essa capacidade. Outros mudam sua velocidade, sua potência e força. Eu mudo meu corpo, sim! EU MUDO MEU CORPO!

A inveja, o recalque, surge da própria incapacidade de mudar o próprio corpo ou qualquer aspecto da vida. Esse tipo de pessoa é aquela que te vê do lado de fora da trilha, te critica mas nunca vai conseguir caminhar nela, pois está muito mais preocupada em analisar sua personalidade e o que te levou a mudar sua própria vida, já que não consegue mudar a dela mesma…

Não vou ser menos sociável por causa disso, não serei violento ou agressivo por causa disso. Pelo contrário, um ato de violência pode atrapalhar meus treinos, machucar minha mãe e me impedir de segurar meus pesos. Já tenho que carregar o peso do preconceito quanto à minha musculatura, não preciso ser taxado de violento, pois não o sou.

Você me taxa, somente porque pratico um esporte que você não conhece. Como isso pode acontecer? Não estou usando drogas, não estou bebendo em bares para depois acertar seu carro e matar sua família. Não sou um criminoso ou um potencial risco à sociedade. Sou um atleta. Que deveria ser orgulhado pela nação, por representar um país preconceituoso no meu esporte.

Redigido em 03/09/2009, quando Bodybuilding ainda não era moda

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Gabriel Ortiz

Gabriel Ortiz, fisiculturista natural lifetime, ou seja, nunca utilizou esteróides anabolizantes ou doping pela WADA. Compete no Brasil e Estados Unidos. Formado em Educação Física, atua como treinador em Brasília, já preparou e prepara vários atletas, inclusive premiados com o título 'Pro Card' pela ANBF em Dez/16 nos Estados Unidos e musa 'Diva Fitness' em 2017 pela WBFF. Redator e colunista desde 2006, cunhou o termo "Preconceito Muscular".

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Flavio Daniel
8 anos atrás

Firmeza! Treino há mais de 10 anos e já vi muita gente entrar e sair por motivos diversos, mas os que permaneceram são justamente os que têm essa linha de pensamento. É claro que há exceções, mas quem treina a tanto tempo já incorporou isso à sua vida e está imune a modismos.

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