Publicado: 30 de Dezembro de 2013 em:

Amar um Esporte Até a Morte


Em seu quarto de hotel em Pittsburgh, Anthony D´Arezzo se encontra pelado perto do seu lençol, o qual tinha sido usado no chão pra proteger o carpete, e permitido que seus amigos pintassem a última camada de Pro-tan em seu shape fudidamente freaky.

Pequenos retoques do rolo de tinta usado para pintura espalham a mancha pela pele, que, após semanas de dieta severa e vários dias de desidratação induzida por drogas, se assemelha mais como um plástico apertado, firme e prestes a rasgar. Esse tecido desliza finamente em sulcos de estriação e protuberência muscular que fizeram com que fosse a marca registrada do shape de Anthony D´Arezzo por 20 anos.

“Se você será um urso”, o vencedor do Mr. Rhode Island gostava de dizer aos amigos, “seja um urso pardo” (o maior dos ursos, pode atingir 3 metros de altura e 700 kg de peso)

Muita coisa no bodybuilding competitivo é permeada com contradição e ilusão, por isso D´Arezzo com mais de um metro e meio de peitoral e braços do tamanho de hidrantes negou a verdade.

Dentro de uma escultura humana poderosa com veias pulando por todos os lados, batia um coração com metade da força de um homem comum.

D´Arezzo sabia. Médicos em 2002 o diagnostiacram com uma doença congênita no coração, uma condição clínica agravada pela busca da grandeza e contínuo uso de esteróides para construção muscular.

“Eu prefiro morrer no palco em uma competição de bodybuilding”, ele disse àqueles que o alertaram sobre o retorno às competições, “do que apodrecer em uma cama de hospital velho.”

Uma hora antes do julgamento, começaria um banquete no hall descendo as escadas no hotel, D´Arezzo, 44 anos, revisaria algumas de suas poses. Meses de treino intenso teriam seu pagamento. Ele gostava de como estava sua condição. Uma de suas irmãs raspou sua cabeça dessa vez, também, para esconder a perda de cabelo e dar a impressão de jovialidade. 

Na pesagem, cedo pela manhã, D´Arezzo tirou seu roupão e ouviu-se as palavras vindas de algum lugar: D´Arezzo voltou. Ele conseguiu.

Agora D´Arezzo se encontra na quina de sua cama, com seu coração fervilhando e em um turbilhão de excitação, nervosismo e os efeitos deletérios do diurético que usou para desidratar. Então desabou na cama adormecido calmo e tranquilo.

Era uma tarde de sexta-feira em Julho. Alguns outros 340 bodybuilders haviam se concentrado na praça da Estação “Sheraton” para o Campeonato Nacional do Comitê Físico, muito conhecido, chamado de “NPC” (Campeonatos regionais e nacionais amadores que dão ao vencedor o título de IFBB-PRO)

Mike Demeri, grande amigo de D´Arezzo e seu parceiro de treino John DiFruscio, olharam com preocupação.

“Você está bem, Anthony?” Demeri perguntou.

“Você sabe, Mike…” D´Arezzo começou a dizer…

Então virou sua cabeça suavemente e caiu para trás no chão.

Era um dia qualquer de novembro em 2002, seu pai homônimo, Anthony D´Arezzo, correu com seu filho para o hospital quando ele reclamou que não podia respirar. Depois de uma bateria de exames, os médicos diagnosticaram D´Arezzo com cardiomiopatia.

Como seus outros músculos, o coração de D´Arezzo tinha se tornado mais largo, aproximadamente três vezes maior que o tamanho normal. Talvez tenha sido genética, talvez tenha sido causado pelos anos de treino pesado. Com grandes câmaras, seu coração tinha que bater muito mais rápido para encher-se de sangue rapidamente, e sua constrição tinha que ser mais forte para empurrar todo o sangue para seus sistema. Em sua melhor condição, seu coração batia com 50% de eficiência.

O cardiologista de Anthony tinha avisado que sua morte seria prematura caso ele não reduzisse o uso de esteróides e parasse de competir, ambas as coisas poderiam ser perigosos estresses pro coração.

Mas em meses recentes, o coração de D´Arezzo tinha respondido positivamente às medicações. Seu médico disse a ele que sua eficiência tinha melhorado quase 25% desde o diagnóstico de sua doença.

Em um curto período de tempo ele estava de volta na Gold´s Gym, na cidade de Pawtucket em Rhode Island… Levantando pesos e treinando dezenas de clientes que lhe pagaram como personal trainer.

Passado o desenrolar desse ano, D´Arezzo apresenta uma melhora em seu estado de saúde. Ele não podia esperar para compartilhar as notícias.

“Foi quando ele começou a pensar em competir novamente.” disse seu pai. “E ele era muito determinado quando colocava alguma coisa na cabeça.”

Logo no início do ano, Anthony e sua namorada Ashley Gonsalves, assistem o campeonato regional de bodybuilding de New England em Boston. Sentado na platéia, D´Arezzo perguntou: “Ash, como você acha que eu ficaria se eu subisse nos palcos novamente?”

“Eu acho que você ficaria ótimo” ela disse “mas o que você precisa provar?”

“Eu quero ver como eu posso modificar meu corpo.”

Apesar de seu coração ruim e suas lesões anteriores, D´Arezzo disse que queria competir uma última vez. Ele perguntou a Ashley: “Você me ajudaria?”

“Eu aceitei o que ele queria fazer” ela disse. “Eu entendia que ele amava muito o esprote”.

E novamente, Anthony D´Arezzo se prepara para transformar seu corpo. Em 22 de Julho, ele já estava pronto pra competição – o campeonato nacional em Pittsburgh.

Aquela noite, D´Arezzo, Ashley e seu amigo Mike Demeri saíram para um jantar leve no Hard Rock Cafe. D´Arezzo tinha conhecido Demeri em 1992 quando ambos estavam competindo no Mr. Rhode Island. Demeri sabia que primeira mão que bodybuilding competitivo “Não era um esporte saudável”. Para competir no nível que Anthony competia, pessoas eram extremistas. Você tem que escolher fazer coisas que são extremas, e ele fez”.

Mais tarde, D´Arezzo voltou ao quarto de seu hotel. Ele se sentia cansado. Seus pés, pernas e dedos estavam com cãimbras pelo efeito da perda de nutrientes e fluidos.

Ele e Ashley se deitaram juntos. D´Arezzo segurou a mão de Ashley e perguntou se ela estava orgulhosa dele.

“Claro”, ela disse.

“Por que você me ama?” Ele perguntou a ela. “O que exatamente você ama em mim?”

Ashley não estava absolutamente certa porquê ele estava fazendo aquelas indagações. “Seu sorriso” ela respondeu.

“Ele baixou seu rosto e começou a chorar. Eu perguntei a ele por que ele estava chorando e ele respondeu: “Por que você tem visto o verdadeiro Anthony, não um fisiculturista”. ‘Eu tinha amado ele somente por ser ele mesmo. Eu não me importava se ele largasse o bodybuilding ou deixasse de ser grande’.

“Então ele disse: ‘SE EU MORRER PRATICANDO ESSE ESPORTE, SÓ LEMBRE QUE EU DEI CAMINHO PARA “OUTRO BODYBUILDER BRILHAR.”

“Por que você está dizendo todas essas coisas?” Ela perguntou.

“Porque você entende o quanto eu amo esse esporte.”

A manha seguinte no dia da competição, Ashley alimentou D´Arezzo com quatro gemas de ovos. Ele levantou, andou em volta um pouco e fez algumas poses em frente ao espelho. Os músculos de suas costas espandiam-se como o pescoço de uma cobra naja.

Ele atingiu seu peso de competição: 110kg. Finalmente, Ashley e Demeri ajudaram a dar a última camada de tinta de competição em seu corpo e secaram com um secador de cabelos.

Ashley correu até o mercado para comprar algumas coisas, deixando D´Arezzo e Demeri no quarto do hotel esperando a competição começar em uma hora e meia. John DiFruscio, parceiro de treino de D´Arezzo, chegou de manhã vindo de um voô de Providence, e esteve no quarto do hotel por em torno de 30 minutos quando D´Arezzo caiu no chão. 

DiFruscio se lembraria apavorado posteriormente, depois que ele e Demeri tentaram recussitar seu amigo e os técnicos de emergência médica falharam em reanimar seu coração doente, de um dos mantras de bodybuilding de D´Arezzo:

“Anthony sempre dizia que se você não tem um pé no palco e outro pé no cemitério você não fez um bom trabalho”

Uma fila de mais de 2000 pessoas se espremem e se contornam em volta da casa dos Maceroni em seu funeral dias depois da perícia constatar que D´Arezzo morreu de hipetrofia cardiomiopática, a doença no coração que finalmente o derrotou.

“É triste”, diz um amigo de D´Arezzo, Dr. Robert Antosia. “Eu não acho que Anthony percebia quantas pessoas realmente se preocupavam com ele e amavam ele.”

“Ele correu o risco. Era sua paixão e eu acho que ele aceitou o risco. Mas eu tenho certeza que ele não achou que isso acabaria com sua vida.”

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Gabriel Ortiz

Gabriel Ortiz, fisiculturista natural lifetime, ou seja, nunca utilizou esteróides anabolizantes ou doping pela WADA. Compete no Brasil e Estados Unidos. Formado em Educação Física, atua como treinador em Brasília, já preparou e prepara vários atletas, inclusive premiados com o título 'Pro Card' pela ANBF em Dez/16 nos Estados Unidos e musa 'Diva Fitness' em 2017 pela WBFF. Redator e colunista desde 2006, cunhou o termo "Preconceito Muscular".

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Anônimo
Anônimo
9 anos atrás

Pqpq esse artigo é foda um puta recado

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